Profissionais e iniciativas voltadas à arquitetura social foram premiadas no final da tarde deste sábado (30/11) durante o 48º Encontro de Sindicatos de Arquitetos e Urbanistas (ENSA). Promovido pela Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), com apoio do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas de Mato Grosso do Sul (Sindarq/MS), o evento virtual foi marcado por emoção e valorização do papel dos profissionais na formação de cidades mais democráticas, inclusivas e sustentáveis.
Iniciando a cerimônia pela categoria de premiações mais recente da Federação que, este ano, chega a sua segunda edição, o Prêmio ArqPop honrou três iniciativas. A primeira a receber a homenagem foi o projeto Carta aos Candidatos, que focou em alertar e cobrar compromisso com a habitação social e com as cidades, organizada pelo coletivo Arquitetos pela Moradia. A representante Claudia Pires, junto do colega Filemon Tiago, receberam a honraria.
Em seguida, Mariana Cicuto recebeu o prêmio em nome do projeto Pró-ATHIS, que objetiva melhorar a habitabilidade e a identificação das possibilidades de regularização fundiária no bairro Pró-Povo em Votuporanga.
E o terceiro projeto a ser premiado foi a Campanha Transforma, iniciativa criada pela Cooperativa ArqCoop+ na cidade de São Paulo. O representante Denis Oliveira de Souza Neves, representou todos os envolvidos na Campanha ao receber o Prêmio ArqPop de 2024.
Os pés no chão e na obra deram à arquiteta e urbanista Bianca Tupikin o prêmio de Arquiteta e Urbanista do Ano 2024. Na linha de frente do projeto Casa Eco Pantaneira, a profissional se emocionou com o reconhecimento e dedicou o troféu a todos os profissionais que trabalham nos bastidores por projetos sociais, àqueles que foram premiados e a todos os que não foram mas merecem uma distinção por fazerem a diferença nas comunidades onde trabalham.
Atuante no Movimento de Luta pela Moradia, a profissional sulmatogrossense é graduada em arquitetura e urbanismo, especializada em Gestão e Gerenciamento em Recursos Hídricos e atuou na formação e orientação de comunidades indígenas. Segundo Bianca, é preciso trabalhar pela defesa da profissão e pela unidade entre os colegas. “Acredito que os arquitetos sociais, como diz o poeta, precisam ir onde o povo está. Temos a alma de artistas, e nosso ato de discutir políticas públicas é vital para a sociedade”, disse parafraseando a canção de Milton Nascimento.
O projeto que deu à Bianca Tupikin a distinção máxima da noite também foi agraciado pela FNA. A Casa Eco Pantaneira, projeto fomentado pelo Sindarq/MS, recebeu o Prêmio FNA 2024. Segundo a presidente do sindicato, Iva Carpes, iniciativas como essa precisam ganhar coro pelo Brasil. “Esse prêmio é para mostrar que nós podemos chegar lá e levar assistência a famílias de baixa renda”, citando um enorme time multidisciplinar que atuou no projeto. A Cooperativa Dois de Junho, do Rio Grande do Sul, também levou o Prêmio FNA 2023 por sua atuação junto à luta pelo direito à moradia. A indicação veio via Centro de Direitos Econômicos e Sociais (CDES Direitos Humanos). A Cooperativa Braço Forte, indicada pelo Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (SASP), recebeu menção honrosa por sua atuação à frente das comunidades da Região Metropolitana de Campinas (SP) e foi representada pelo arquiteto e sindicalista Victor Chinaglia.
Representando o Conselho Consultivo da FNA, a ex-presidente Valeska Peres Pinto explicou que a escolha dos premiados foi focada no reconhecimento de profissionais alinhados com os objetivos da justiça social, no acesso da arquitetura para todos e expansão do mercado de trabalho para além dos mercados já consagrados. “É com viés de alargamento da nossa relação com a sociedade e do exercício de nossa responsabilidade social que implementamos a premiação do Arquiteto e urbanista do Ano”.
O grupo também concedeu menção honrosa à arquiteta Roberta Lia Nascimento da Silva, indicada pelo sindicato do Amapá. Ainda foi feita uma homenagem in memorian ao arquiteto e urbanista Guivaldo D’Alexandria Baptista pelos serviços prestados como professor da Universidade Federal da Bahia e como presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (CAU/BA). A indicação para homenagem póstuma foi realizada pelo Sindicato dos Arquitetos do Estado da Bahia (Sinarq/BA).
Premiação ao alicerce de nosso muro
Se a luta sindical por moradia social é um muro, como disse o arquiteto e urbanista e ex-presidente da FNA, Newton Burmeister, sem dúvida, sua atuação foi um dos alicerces do que vemos hoje no Brasil. Em um momento de emoção extrema, o ex-presidente da FNA foi homenageado pelo colegiado em cerimônia conduzida pelo arquiteto e urbanista e diretor da FNA, Matheus Guerra Cotta e pela presidente da FNA, Andréa dos Santos. A premiação especial fechou o evento e reverenciou a história de um homem público que fez a diferença no urbanismo gaúcho e brasileiro.
“Burma foi um dos protagonistas na história do direito à moradia, integrando a comissão coordenadora de trabalho de Assistência Técnica à Moradia Econômica (ATME), antecessora da ATHIS, homem público e militante pela agenda social da arquitetura”, ressaltou a presidente.
“Receber essa consideração dos colegas é um orgulho. Se estamos na construção de muro, cada um de nós representa uma pedra nesse conjunto. Em quase 50 anos de federação, estamos vendo a complexidade das nossas intervenções cada vez mais como um papel mais importantes e incisivas pelo bem das cidades”, disse citando outras “pedras de peso” como Alfredo Paesani, Clóvis Ilgenfritz e Zezéu Ribeiro. E deixou um recado: vivemos problemas complexos e que requerem intervenções muito fortes daqueles que têm responsabilidade nesse processo. “Tenho orgulho desse troféu, carinho e confiança inabalável no trabalho que vem sendo feito pelos companheiros”, admitiu.